ATA DA TRIGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 04.08.1988.

 


Aos quatro dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Quinta Sessão Solene, da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Samuel Burd, concedido através do Projeto de Resolução nº 07/88 (proc. nº 442/88). Às dezessete horas e vinte e três minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancadas a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presente. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sr. Samuel Burd, homenageado; Sra Noêmia Burd, esposa do homenageado; Dr. Benno Milnitsky, Presidente da Confederação Israelita do Brasil, Dr. Israel Lapchick, Presidente do Conselho das Entidades Israelitas do Rio Grande do Sul; Rabino Efraim Guinsberg, Gran Rabino Ortodoxo do Rio Grande do Sul; Ver. Isaac Ainhorn; Ver. Mano José, 2º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Artur Zanella, em nome das Bancadas do PFL e PMDB, discorreu sobre a vida do homenageado, ressaltando o aspecto comunitário da mesma e, os relevantes serviços prestados por S. Sa., não só à Comunidade Israelita, à qual pertence, mas a toda Comunidade Gaúcha. O Ver. Jorge Goularte, em nome da Bancada do PL, dizendo que não poderia se omitir da presente homenagem, tendo em vista a amizade que o une ao Sr. Samuel Burd, congratulou-se com S. Sa. e destacou a sua importância na Comunidade Israelita. O Ver. Mano José, em nome da Bancada do PDS, discorreu sobre o lado humano do homenageado, falando do trabalho e da solidariedade do mesmo para com as classes menos privilegiadas. Disse que nossa Cidade tornar-se-ia bem melhor, se houvesse mais pessoas da estirpe do Sr. Samuel Burd. O Ver. Antonio Hohlfeldt, pela Bancada do PT, congratulou-se com o homenageado pelo título ora recebido e relatou episódios que o ligam a S. Sa. A seguir, o Sr. Presidente convidou o Ver. Isaac Ainhorn a proceder a entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Samuel Burd e concedeu a palavra ao homenageado que agradeceu a presente Sessão Solene. Após, a Sra. Elaine Brochado procedeu a entrega de flores à esposa do homenageado. A seguir o Sr. Presidente solicitou ao ex-Deputado Henrique Henkin que fizesse a entrega do Troféu Frade de Pedra ao Sr.Samuel Burd, e fez pronunciamento alusivo ao encerramento da presente Sessão. Nada mais havendo a tratar o Sr. Presidente levantou os trabalhos às dezoito horas e dezoito minutos, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem a Sala da Presidência e convocou os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental, os trabalhos foram presididos pelo Ver. Brochado da Rocha e secretariados pelo Ver. Mano José. Do que eu, Mano José, 2º Secretário, determinei fosse lavrada apresente Ata que, após lida e aprovada será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.

 


O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): Dou por abertos os trabalhos da presente Sessão Solene.

Inicialmente, em nome da Câmara Municipal de Porto Alegre, saúdo os componentes da Mesa, bem como os filhos do homenageado, Dóris, Milton, Lisa e Clarice, os amigos e amigas do homenageado e que estão presentes.

A seguir, como é de praxe da Casa, se fazer ouvir pelas referidas Bancadas, concedemos a palavra ao Ver. Artur Zanella. S. Exa., neste ato, falará em nome das Bancadas do PFL e do PMDB.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: (Menciona os componentes da Mesa.) Cabe, normalmente, a quem fala, em primeiro lugar, fazer uma rápida biografia do homenageado e eu o faço em meu nome e em nome da Bancada do PMDB, especial de seu Líder, Ver. Clóvis Brum, que adoentado na última hora não pode comparecer, mas, pediu-me que ressaltasse aqui o respeito e a amizade que tem pelo homenageado e pela comunidade a qual ele representa.

“O Sr. Samuel Burd, como diz aqui, é um paulista de nascimento, gaúcho de coração e judeu de origem. É casado com a dona Noêmia, pai de quatro filhos e avô - ao que parece de uma infinidade de netos, porque muitas vezes ao telefonar para ele, nota-se a preocupação de um neto aqui e outro acolá. Iniciou sua liderança comunitária trabalhando como “askanim” do Fundo Comunitário. Durante 8 anos de 1950 a 58, foi Diretor do Círculo Social Israelita, após foi Vice-Presidente; em 1957 assumiu a Presidência; de 1955 a 58, foi secretário da comissão de construção da atual sede do Círculo Social Israelita. Ajudou a fundar o Campestre integrando sua primeira e segunda diretoria. Em 1963 foi eleito Presidente do Campestre, reeleito em 1966 e 69, 71 a 75. Em 1972 foi eleito Delegado no Congresso Sionista Mundial, representando o Rio Grande do Sul, terminando como sócio-honorário e patrono do Campestre.

Em 1975, foi eleito Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul por um período de 2 anos, sendo reeleito em 1977; de 1977 a 1979, foi Vice-Presidente da Confederação Israelita do Brasil, na gestão de Benno Milnitsky. Atualmente preside a Federação Israelita do Rio Grande do Sul. Também recebeu, no dia 16 de janeiro de 1987, um diploma de Mérito Cívico por relevantes serviços prestados à Liga de Defesa Nacional durante o governo Jair Soares.”

Minhas Senhoras e meus Senhores, esta é uma Sessão atípica, porque o proponente, Ver. Isaac Ainhorn, por questões regimentais, não pode fazer o discurso. Mas, o Vereador, na sua Exposição de Motivos, coloca que: “Viver para a comunidade é um constante doar-se. Quem se dedica para a solução de problemas dos integrantes de seu bairro, de sua rua ou de sua cidade, permanece em ativa presença em todas as convulsões de sua época. Delas não foge, não se omite. Procura, sempre, conviver com reivindicações, pressões de toda a ordem e se transforma, a todo instante, em médico, sacerdote, conselheiro, construtor, político, torna-se um amigo e atrai, com seu trabalho, uma infinidade de comunitários, transformando-se em líder. Mas, na medida em que conquista, à semelhança da imagem de Saint Exupéry, torna-se responsável pelo que cativa.”

Mas, meus Senhores e minhas Senhoras, até o presente momento, eu me vali do trabalho do Ver. Isaac Ainhorn que, repito, por motivos regimentais, não está, neste momento, fazendo o seu discurso.

Mas, eu digo que existem, aqui em Porto Alegre, muitas pessoas que foram ou são Presidentes de clubes, patronos de clubes; existem muitas e muitas pessoas que ganharam medalhas em governos e foram dirigentes da Federação Israelita, mas muitas dessas pessoas não estiveram e não estarão nunca na posição que o Dr. Samuel Burd se encontra hoje. Esta Casa esta homenageando hoje, não uma biografia, mas esta homenageando uma liderança. E ë isso que temos que destacar em nome do meu Partido, em nome do PFL, o Samuel Burd, Líder, Líder de uma comunidade que historicamente recebe desta Casa toda a sua amizade, toda a sua compreensão porque esta Casa tem uma ligação toda especial com a comunidade israelita. Esta Casa compreende toda uma trajetória milenar que levou esta comunidade da glória ao sofrimento e que hoje busca em todo mundo, mais especialmente em Israel, finalmente, chegar ao seu destino. Esta comunidade que sempre procurei acompanhar desde criança com o Dr. Isaac Meizer desde jovem com a Dra. Maria Seligmann, com o Tobias, com o Celso, lá na Miguel Tostes, esta comunidade que eu quase entendi quando ha dois anos fui a Israel - por minha conta diga-se - para ver, afinal de contas, porque uma comunidade tão pequena em número ë tão importante para a História, ë tão importante para a humanidade. E lá eu vi, vi nos "kibutz", vi nas colônias e vi nas cidades e também vi nas Forças Armadas e hoje digo aos senhores que na figura de Samuel Burd e tantos outros que estão aqui, que eu não identificaria por nomes para não criar aquele constrangimento natural de citar-se alguns e não se citar outros, eu vejo, sinceramente, a figura de muitos líderes que aqui estão, muitos líderes que já foram homenageados por esta Casa, muitos líderes que não foram homenageados por esta Casa, eu sinceramente vejo nestas pessoas que lutam por sua comunidade, a figura revivida dos profetas, aquelas lideranças antigas deveriam ter o mesmo estofo moral, a mesma fortaleza interior do que estas lideranças com quem nós convivemos e a quem homenageamos, seguidamente, nesta Casa.

Esta Casa é a única no Brasil, que eu saiba, o único País que tem este privilégio, é Israel, que comemora todos os anos o Dia da Independência de Israel.

Esta Casa teve como um dos seus maiores líderes, Prefeito de Porto Alegre por longo tempo. Marfim Aranha. Esta Casa tem hoje o Ver. Aranha Filho, parente de Osvaldo Aranha.

É por isso que no dia de hoje o meu partido me pede que saúde o Dr. Samuel Burd.

E digo como as vezes me pronuncio aqui: não é Porto Alegre que homenageia líderes desta estirpe, quando um Vereador propõe a concessão de um titulo honorífico. Porto Alegre e a Câmara Municipal que se sentem orgulhosas por ter na sua Cidade, pessoas de tal força interior que nos servem de exemplo para nossa cidade, para o nosso Estado e para o nosso País.

 

Receba, pois, Dr. Samuel, os nossos cumprimentos, a nossa gratidão e a nossa amizade. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Jorge Goularte, em nome do PL.

 

O SR. JORGE GOULARTE: (Menciona os componentes da Mesa.) Srs. líderes da comunidade Judaica, minhas Senhoras e meus Senhores. Como sempre, quem me conhece sabe, não faço discursos, especialmente para a comunidade Israelita. Eu converso e digo o que penso e sinto. Eu não poderia ficar omisso nesta solenidade. Aliás, eu gostaria de ter feito nesta solenidade o que fiz na solenidade ao Marquinhos Rachewsky, dar ao Isaac Ainhorn a -oportunidade de falar em meu nome. Se pudesse fazê-lo, regimentalmente, eu faria. Entendo que as pessoas, os autores devem ter a primazia da homenagem, mas infelizmente, por problemas regimentais isto é impossível e eu, então, me vejo privado de ouvir o discurso do Isaac e deixo aos senhores este peso de ter que me escutarem por alguns minutos. Isto não é um discurso, são apenas algumas palavras. O Zanella já me tirou alguma coisa que eu iria falar, porque realmente queria homenagear o Isaac e ele leu o currículo.  O Zanella já conhece Israel e eu não. Ele tem mais condições de falar sobre Israel do que eu. Mas eu não sou muito chegado a solenidades. Sou mais chegado ao corpo a corpo e a batalha. Quando precisam de mim para defesas, aí é que faz o meu gênero. Nós todos temos uma característica. Todos os Vereadores. Então, temos na Casa Vereadores que são grandes oradores em homenagens solenes e cito o Raul Casa e temos os que são de combate do dia a dia, que é o meu caso. Quando foi preciso defender Israel, quando for preciso até brigar por Israel, por opção, por desejo próprio meu, aí sim, aí eu estou presente. E o Samuel sabe disso. Mas eu não poderia, Samuel, mesmo sem discurso, deixar de vir aqui para te trazer um abraço em nome meu do Partido Liberal, em nome, teu amigo de tantos anos e que por longo tempo já defendemos tantas causas juntos com o Jaime Weinberg, Abraão Weimann, Dayid Capela, enfim, tantos amigos que eu vejo aqui. É difícil citar todos os nomes, porque eu não quero omitir nenhum dos meus amigos da comunidade Israelita. E nada melhor do que se homenagear um líder carismático como Samuel Burd. Um homem que vive a comunidade 24 horas por dia, que é um líder nacional, porque já ocupou vários cargos em Porto Alegre, no Estado e no Brasil, sendo Vice-Presidente da Confederação Israelita no Brasil e um homem que conhecemos problemas da comunidade judaica. Particularmente eu tenho feito isso nas horas mais amargas, então, hoje, como ë apenas para homenagear o Samuel, eu venho desarmado, como se diz, para te trazer um abraço, Samuel e dizer que eu votei em ti, com muito carinho, e que esta Casa o fez por unanimidade, não por acaso, pelo o que tu faz pelo trabalho que tens feito pela comunidade israelita de Porto Alegre, do Rio Grande, do Brasil. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Mano José, que falara em nome da Bancada do PDS, com assento nesta Casa.

 

O SR. MANO JOSÉ: (Menciona os componentes da Mesa.) Não venho à tribuna, a não ser para testemunhar, não porque Samuel Burd tenha sido Presidente de entidades israelitas, imagino e tenho pelas informações de que foi brilhante, mas venho testemunhar o trabalho que vi Samuel Burd, juntamente com seu genro, Jairo, e o seu filho, Milton, realizar numa zona de nossa Cidade, pobre, zona de proletário, zona de operário. Suando iniciaram a sua indústria de tintas, eu estava lá, no inicio desta fabrica.  Eu acompanhei o desenvolvimento da fábrica e aprendi a admirar este homem, Samuel Burd, porque pela sua amizade com toda aquela comunidade necessitada e pobre – não só necessitada de emprego - eu testemunhei a amizade de Samuel, eu testemunhei o seu trabalho persistente, o seu trabalho continuo, a sua solidariedade, o que é muito importante.  Nos dias de hoje, o importante é a nossa solidariedade para com o nosso próximo, não importando se o nosso próximo e rico ou pobre, se é desta ou daquela raça, se é desta ou daquela religião. Somos todos irmãos. E esta solidariedade eu testemunhei, como bom árabe, no meu irmão Samuel Burd. (Palmas.) Poderia até dizer que faltei para com Samuel. Pela nossa longa amizade, pela admiração que lhe dedico, poderia dizer que faltei com ele. Poderia ter tirado o lugar do nobre e querido Vereador Isaac e ter apresentado o titulo eu, e não ele. Razões, motivos, eu tinha de sobra. Falha nossa. Mas não poderia deixar de corrigir esta falha, no dia de hoje, vindo ã tribuna, em nome do meu Partido, PDS, para apenas testemunhar e para dizer que a Cidade precisa de muitos, de grande número de Samuéis Burd que, a par de ter o seu negócio, a par de ter a sua indústria, de progredir, financeira ou monetariamente, não importa, também soube e sabe estender a mão ao seu próximo, em todas as oportunidades. E nós tivemos ensejo de ir solicitar a Samuel apoio para CTG de escolas. E ele disse: presente. Apoio para entidades culturais de Porto Alegre. E ele disse: presente. Jamais ele disse: ausente. Este homem merece o destaque da comunidade porto-alegrense, porque é somente com homens desta estirpe que poderemos realmente, meus queridos irmãos da colônia israelita, construir uma Cidade, um Estado e um País melhor para os nossos filhos e para os nossos netos. Os teus filhos, Samuel, merecem o pai que têm, e hoje são o teu braço direito. Os teus netos merecem o avô que têm. E, oxalá, possa o Altíssimo permitir que tu possas ver os teus netos crescerem e que possas ver sobretudo, seguirem o caminho luminoso que estás deixando na tua trajetória. Porto Alegre resgata, ao te conceder o Título hoje, uma dívida, com todos aqueles que, não sendo porto-alegrenses, para cá vieram, para fazer a grandeza desta Cidade que nos tanto amamos, que nós tanto queremos. Ao cumprimentar o homenageado, não se pode, em absoluto deixar de cumprimentar a Colônia Israelita, Colônia pela qual eu tenho a maior admiração. A colônia na qual eu tenho talvez os maiores amigos da minha Cidade de Porto Alegre. E ali esta o Cidadão de Porto Alegre, meu vizinho, meu irmão, também, tio Marquinhos.

Recebam os nossos parabéns em nome do PDS. Receba, meu caríssimo Samuel Burd os cumprimentos em nome do meu Partido, PDS, pelo qual estou falando no momento. Receba os cumprimentos dos moradores da Rua Tenente Ary Tarragô, que tu tanto ajudaste este Vereador. Unidos, tanto fizemos pela Ary Tarragô, desde a iluminação, água, calçamento e uma série de benfeitorias, ou melhor, desde a abertura do antigo Beco do Butiá, transformando-se em Rua Tenente Ary Tarragô, eu j o nome eu tive o prazer de dar aquela Rua. Receba em nome dos moradores daquela rua e das adjacências, os cumprimentos pelo Título que recebes hoje. E recebe, finalmente, em nome deste teu amigo, deste teu irmão, os cumprimentos. E vou te dar um abraço, a ti e à Dona Noêmia e o significado deste abraço será de que nos não perdemos jamais uma batalha na Ary Tarragô e vamos continuar unidos, lutando por aquela comunidade que tanto merece e para a qual tu tens feito tanto. Tu, o Jairo e o Milton, que eu agora testemunho aqui.

Sou grato. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Antonio Hohlfeldt, que falará em nome da Bancada do PT.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: (Menciona os componentes da Mesa.) Há semanas atrás quando o Samuel estava aqui na Casa cruzávamos pelo corredor e eu dizia que faria o possível para estar presente a esta Sessão. Já tinha agendado uma viagem, chego em cima da hora, mas estou aqui, cheguei a tempo de poder trazer meu abraço pessoal e também em nome do Partido dos trabalhadores.

Há sempre duas maneiras de podermos homenagear uma pessoa: como a relação pessoal, e com o Samuel já vivi episódios muito significativos. Quero lembrar um, ainda ao tempo do Correio do Povo. Havia escrito um artigo que tocava essas questões polemicas que envolvem a comunidade israelita no Brasil e no mundo. Havia um setor da comunidade que não tinha gostado do que eu havia escrito. Não lembro o que escrevi, mas alguns dias depois recebi através do meu companheiro. Jornalista Armando, um aviso de que o Samuel queria falar comigo. Fiquei surpreso, falei com ele que me disse ter uma missão para mim. Deveria ir a Buenos Aires ver um Balé, pois queriam trazer o grupo a Porto Alegre. Disse-me ele: “Vai ver o grupo, não entendemos de balé, mas vê se é bom ou não para podermos trazer, mas dá tua opinião... Mas e se minha opinião não for ao encontro da comunidade?” Disse-me: “Decide e depois a gente conversa.” Fui a Buenos Aires, fiquei encantado com o grupo que vinha de Israel e realmente tivemos um grande espetáculo em Porto Alegre. Mais recentemente, eleito Vereador, entra o segundo aspecto: o aspecto da representação coletiva. Eleito Vereador, nas primeiras semanas ocupando um lugar nesta Casa, recebi um aviso, através mais uma vez do Armando, de que queriam conversar comigo e lá fomos a essa reunião noturna. Mais uma vez o Samuel foi meu interlocutor, representando a Comunidade Israelita de Porto Alegre, as nossas posições, como levaríamos o trabalho aqui na Câmara, enfim uma série de coisas, um questionamento, uma sabatina. Acho muito importante porque afinal nós temos independente da legenda partidária que nos filiamos, independente das posições que defendemos, ideologicamente, nós, aqui nesta Casa, somos 33 Vereadores da Cidade de Porto Alegre, portanto temos compromisso e dar conta a todos os segmentos da sociedade, não interessa quais sejam e evidentemente a comunidade israelita é um segmento importante dentro desta Cidade. Conversamos.

É por estes dois motivos que eu reconheço neste cidadão, Samuel Burd, uma pessoa que antes de tudo é leal, respeitável pelo seu trabalho, pela sua presença, pela sua participação e por outro lado, Samuel Burd, sem dúvida nenhuma tem uma liderança e um trabalho coletivo de representação junto ã comunidade, de contato junto a outros setores da sociedade. Eu não poderia estar ausente a essa solenidade, ao menos para trazer ao Samuel o meu abraço muito humilde, mas muito sincero e muito simpático, a ti pessoalmente, como tu és como pessoa e a ti pela liderança que tu desenvolves nesta cidade e dizer que o Ver. Isaac Ainhorn foi muito feliz, acho que esses momentos que a Casa se irmana e vota com absoluta tranqüilidade e absoluta convicção. São esses momentos de homenagens muito importantes que nós reconhecemos os méritos e os torne públicos e em alta voz.

Era apenas isso que eu gostaria de dizer aos senhores e senhoras e muito especialmente ao Samuel Burd, um abraço muito grande, pessoal e do Partido que eu represento.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste momento, convido o autor da proposição e da presente outorga do título honorífico de "Cidadão Emérito" ao Sr. Samuel Burd, Ver. Isaac Ainhorn, a proceder à entrega do diploma que a Câmara Municipal de Porto Alegre concede ao nosso homenageado.

 

(O Ver. Isaac Ainhorn procede à entrega do título honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Samuel Burd.) (Palmas.)

 

O SR. ISAAC AINHORN: A Câmara Municipal de Porto Alegre confere o título de Cidadão Emérito a Samuel Burd pela valiosa contribuição de seu trabalho em prol do engrandecimento da sociedade porto-alegrense. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE : Por fim, temos a grata satisfação de poder ouvir e, sobretudo, poder conter, em nossos Anais, a palavra do novo Cidadão Emérito desta Cidade. Com a palavra, o Sr. Samuel Burd.

 

O SR. SAMUEL BURD: (Menciona os componentes da Mesa.) Srs. representantes de entidade, minhas Senhoras, meus Senhores e meus amigos.      

Ao recebermos tão honrosa distinção, outorgada pêlos dignos representantes do povo de nossa cidade, parece que toda a nossa existência em um retrospecto quase mágico, revive em nossas lembranças. Nascido em um lar pobre, conheci as maiores dificuldades desde muito cedo, aprendendo a dar o devido valor a todo progresso, por menor que seja, e foi com muito trabalho e esforço que realizei os meus estudos desde o primário até a universidade. Iniciei a minha formação no Colégio Israelita que se situava, então, nos altos da Sinagoga do Centro Israelita; prosseguindo no Colégio Rosário e após no Colégio Júlio de Castilhos, onde completei o científico. Procurei, desde muito jovem orientar a minha vida no sentido de tornar-me independente o antes possível. Ingressei na Universidade, formando-me em Odontologia pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre em dezembro de 1947. Etapa que constituiu uma vitória tanto para mim como especialmente para meus pais e familiares. E aqui, desejo expressar, da maneira mais intensa, o meu reconhecimento e gratidão aos meus pais, aos quais muito devo e que com enorme sacrifício souberam criar e educar seus quatro filhos indicando-lhes com seu exemplo, o caminho da retidão, honestidade e trabalho. Em janeiro de 1949, casei-me com Noêmia Kosnitzer, leal e dedicada companheira que, lado a lado. comigo, enfrentou a difícil tarefa da construção de nossa vida. Nesta longa jornada, inúmeras dificuldades sobrepujamos com muito amor, no mais elevado sentido, certos que estávamos fazendo o melhor possível para a felicidade de nosso lar. Deste amor nasceram Doris Lane. Milton. Luiza e Clarice. Hoje, todos casados, enriqueceram mais ainda nossa felicidade com Daniel, Fernanda e liana Schneider; Gabriel e Roberto Burd; Fábio, Eriça e Rafael Wajnberg; Aline e Thais Hochman, família da qual temos o maior orgulho. Meu pai chegou ao Brasil em 1904, com dez anos de idade, fazendo parte do primeiro grupo de colonos que se instalaram em Philipson, havendo aqui chegado minha mãe em 1914. Filho de imigrantes, aprendi a amar esta abençoada terra que representava para eles a liberdade e o direito de uma vida plena sem as tristes e injustificáveis restrições impostas em seus países de origem. Eles acreditaram no Brasil, a ele confiaram os seus destinos, e viram suas esperanças tornadas realidade.

Entendo que aqueles que não honram as tradições e os ensinamentos que seus ancestrais lhes transmitiram, jamais serão bons cidadãos onde quer que se encontrem. No Brasil de hoje em que se respira o ar da liberdade, todos, sejam quais forem as origens étnicas ou convicções religiosas, temos não só o direito de pensar e de expressar nossos pensamentos mas, também, o dever de tudo fazermos para que estas condições nele se estabeleçam, definitivamente, alicerçadas pelo progresso econômico e equilíbrio social.

Esta é a terra do futuro, a terra na qual nós, filhos de imigrantes, plantamos nossas raízes e criamos nossos filhos, ensinando-lhes a lição que aprendemos - amar este país e nele acreditar. Desde cedo tive uma intensa participação comunitária, procurando seguir sempre o conceito, de todos conhecido, que “Quem não vive para servir, não serve para viver”. E através dessa longa militância, onde cultivei sinceras e autênticas amizades, cheguei à Federação Israelita que presidi de 1975 a 1979. Cabe-me, na atualidade a honrosa responsabilidade de presidir, novamente, a Federação Israelita do Rio Grande do Sul que congrega as Sociedades Israelitas Brasileiras do nosso Estado, religiosas, educacionais, filantrópicas, assistenciais, culturais, sociais e esportivas. Esta homenagem que intensamente me sensibiliza, muito mais que o reconhecimento em relação à minha pessoa - o que não teria razão de ser - o é em relação à entidade que representa um segmento atuante de nossa sociedade. Existem momentos na vida de todo o ser humano que marcam profundamente a sua existência. E este é, certamente, para mim, um destes momentos. A cidade que foi cenário de minhas recordações de infância, de meus anseios de juventude e na qual construí a minha vida e a de minha família, a cidade que aprendi a amar como uma extensão do meu próprio lar, esta cidade abre agora o seu generoso coração para, em um gesto magnânimo, conceder aquele filho de imigrantes, tão enobrecedora distinção. Confesso que em meus sonhos de menino pobre jamais ousaria imaginar que me fosse outorgada tão elevada honraria. Longe de envaidecer-me, recebo esta homenagem com muita humildade, transferindo-a para minha esposa, companheira de todas as horas, para meus queridos filhos e netos e para todos aqueles que sempre me auxiliaram, me apoiaram e me prestigiaram porque, reconheço, o mérito, muito mais a eles pertence, do que a mim mesmo.

Ao nobre vereador e dedicado amigo Isaac Ainhorn, que teve a iniciativa de solicitar este título e aos ilustres integrantes desta Casa que o aprovaram, o meu agradecimento e o de minha família e a todos que tiveram a gentileza de honrar-me  com sua presença, o meu muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido minha mulher Elaine a fazer a entrega de flores à Sra. Noêmia Burd, esposa do homenageado.

 

(É feita a entrega das flores.)

 

Ao encerrar a presente Sessão, tendo nós já ouvido alguns arrazoados feitos pelo Proponente desta Sessão, Ver. Isaac Ainhorn, tendo ouvido os oradores que traduziram para nos o perfil, a personalidade, a obra do nosso homenageado, queremos, neste momento, dizer da nossa imensa preocupação de fazer com que esta Casa, a Casa da Cidade de Porto Alegre, que muito bem disse um dos oradores, na sua pluralidade de 33 Vereadores, homenageia, é  verdade, por autoria de um deles, no caso o Ver. Isaac Ainhorn, mas tendo a unanimidade da Casa, destacando tão ilustre pessoa que me permito, neste momento, dizer que a Casa não examinava naquele momento, pelo menos, o Presidente da Confederação Israelita, examinava a figura humana, o trabalho que foi destacado aqui. A Cidade necessita inspiração para poder manifestar aos habitantes dela o seu apreço como reconhecimento a eles, mas, também, como indicador dos seus caminhos. Por isso, criamos, nesta Casa, uma homenagem que é o Troféu “Frade de Pedra”, uma homenagem singela que traduz a fraternidade com as pessoas. Para tanto, solicito aquele que muito escreveu a história desta Cidade e deste Estado, faça, em nome da Casa, a entrega do Titulo dos amigos e da fraternidade desta Casa. Para tanto, peço que chegue até nos o caro amigo, exemplo e guia de longos anos que nos ensinou a caminhar nesta vida difícil que é o mundo político, e hoje se faz aqui presente aqui, o ex-Deputado Henrique Henkin, para que faça a entrega do “Frade de Pedra", ao homenageado. (Palmas.)

 

(Procede-se à entrega do “Frade de Pedra”.)

Creio que me resta agradecer a todas ilustres pessoas que colaboram para que esta Casa se engrandeça, tendo amigos tão próximos, pessoas tão íntimas. Agradecemos, profundamente, a todos que colaboraram conosco e tornaram esta Casa com vida e com alma e com imenso afeio e carinho e, sobretudo, com profunda convicção que, ao nos reunirmos, deixamos lá fora as nossas angústias e vivemos momentos de extremo carinho e afeto, onde a história foi contar, mas onde, sobretudo, ficamos nós irmanados imantados,num sentimento de fraternidade, de congraçamento e, sobretudo, de igualdade, onde todos nos podemos nos abraçar mutuamente, de uma forma extremamente carinhosa. Ao termos um novo Cidadão de Porto Alegre, temos, seguramente, um novo guia para esta Cidade, em nossos momentos de tristeza ou de alegria. Muito obrigado.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h18min.)

 

* * * * *